Stress em alto grau, cobrança por todos os lados, rotina intensa de trabalho, muitas vezes, cercada pelo pensamento: matar ou morrer? Quando um policial militar finaliza seu curso de formação, ele jura servir à sociedade “mesmo com o risco da própria vida”. A escalada da violência no Ceará foi acompanhada diretamente pelo aumento de militares, da Corporação do Estado que precisaram se ausentar das suas funções devido a licenças médicas para tratamentos psiquiátricos.

Só em 2019 já são 840 licenças para tratamentos psiquiátricos, número que supera os 761 afastamentos de 2018. Em cinco anos, pelo menos, 5.188 policiais militares no Ceará foram afastados das suas funções devido às licenças médicas para tratamentos psiquiátricos. O número mostra que, em média, de 2015 até o último mês de agosto de 2019, a cada ano, são mil afastamentos, que revelam a continuidade dos problemas de saúde mental da categoria.

Hoje o Centro Psicossocial da Polícia Militar do Estado do Ceará não consegue atender de forma eficaz nossos profissionais, haja vista o número de afastamentos devido ao risco do trabalho. A Assessoria de Assistência Biopsicossocial (Abips) realiza o trabalho de acolhimento e possui efetivo composto por psicólogos e assistentes sociais e, para este segundo semestre, conforme informações Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), estão previstas atuações de psiquiatras e fisioterapeutas, uma estrutura que ainda está aquém do nosso efetivo policial. Nossos policiais pedem socorro!

O descaso do poder público sobre os profissionais de segurança se agrava quando falamos da alta taxa de suicídio entre esses profissionais. Partindo da ideia clássica de que o suicídio é um fato social, quando trata-se de um conjunto de suicídios em certa sociedade e em certo período, não podemos apreender este fenômeno entre policias como algo isolado e individual, como vem sendo tratado pelo Estado brasileiro.

Segundo os dados do Anuário da Violência de 2019, o aumento significativo da taxa de suicídio da categoria não é aleatório, muito pelo contrário, é o retrato de uma realidade perversa mantida por políticas públicas de segurança que tratam seus agentes principais como torniquetes de um sistema falido. O papel designado para os policiais nas agendas atuais de políticas públicas tem sua origem numa formação pautada na disciplina corporal, psíquica e moral, o que torna esses profissionais resignados às regras advindas de seus superiores, sejam elas quais forem, já que, aqui, a ordem hierárquica é intransponível.

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